Recém-lançado pela
Oxford University Press, o livro Future Politics: Living Together in a World
Transformed by Tech de Jamie Susskind é, no mínimo, sufocante. Com foco
prioritário nas questões políticas e analisando eleições em diversos países,
Jamie faz uma reflexão profunda sobre o quanto uma das ferramentas mais
libertadoras da história da humanidade reduz o nosso mundo a um tamanho muito
menor do que podemos imaginar: a internet.
A conexão com um
mundo sem limites produz uma falsa sensação de amplitude, mas que na verdade
nos joga em uma bolha que pode ser muito diferente da bolha do seu melhor amigo
ou a da sua família. O que romanticamente teria nascido para facilitar a nossa
vida diante da infinita gama de possibilidades, segundo o autor, pode se tornar
o carrasco de uma escravidão voluntária, criando universos limitados como o
mostrado no filme "O mundo de Andy", em que Jim Carrey passa boa
parte da vida sem saber que estava em um mundo limitado, criado para um reality
show.
E esse nosso
"malvado favorito" tem nome. Ele se chama algoritmo. O algoritmo mexe
com a maneia que vivemos em sociedade, com as nossas escolhas, nos fazendo
pensar que somos donos das nossas decisões, sendo que não somos mais tão donos
assim. O mundo que eu enxergo pode ser muito diferente do mundo que você
enxerga, mesmo que vivamos na mesma cidade, no mesmo bairro, na mesma rua ou
até na mesma casa.
Na nossa busca por
opções de compras, lazer, educação o algoritmo pode mostrar um bairro para você
totalmente diferente do que ele mostra para mim. Assim como ele nos mostra
questões econômicas sociais e políticas em composições totalmente diferentes,
sendo esta última o foco principal do livro.
Se o seu
comportamento na rede indica que você gosta de churrasco, o algoritmo vai
mostrar para você o quanto o seu bairro é cheio de churrascarias e lojas de
acessórios e que as livrarias também oferecem conteúdo sobre o assunto fazendo
com que você se sinta praticamente na Argentina. Eu que prefiro a dieta vegetariana vou
perceber - pelo conteúdo que me é mostrado sem mesmo que eu o busque - quantas
opções de restaurantes, lojas, livrarias, espaços de meditação e pessoas que
compartilham da minha causa, me fazendo sentir que encontrei uma verdadeira
comunidade alternativa. Mesmo que eu e você moremos na mesma rua.
Das bolhas de sabão às balas de canhão
Quantas informações
disponíveis sobre o que fazemos , onde nós vamos, o que pensamos e tantas
outras informações que voluntariamente e
DE GRAÇA fornecemos sobre nós para que o
conteúdo que nos é ofertado passe a ser cada vez mais focado e limitado (não em
quantidade, mas em pluralidade), reforçando pensamentos e conclusões que já
temos e nos limitando a conhecer outras opções para reflexão, criando, com
isso, percepções viciadas em nós mesmos e
reforçando uma auto verdade cada vez mais agressiva.
Afinal, se a
internet (ou melhor o algoritmo, mas nem sempre lembramos que ele existe)
mostra o tempo todo que o mundo pensa como eu, e que esse mesmo mundo gosta das
coisas que eu gosto. Diante de tamanha revelação eu me sinto mais forte e
determinado a querer impor a minha verdade ao outro como se eu fosse maioria.
Com exemplos tão
básicos quanto descrevi acima, o quanto essa simples percepção do bairro pode definir o futuro da humanidade quando
ela entra na esfera política. Afinal cada eleitor recebe pela rede o não só
notícias do candidato que mais lhe agrada, mas também filtradas pelo algoritmo
apenas os aspectos do seu candidato que mais lhe agradam. seja pela seleção orgânica feita pelo
algoritmo, seja por conteúdo criado e direcionado a partir do mapa sobre você
que ele monta sobre você mesmo para empresas, partidos e outros. Indo além, o
quanto o conteúdo é criado a partir da impressão (e não dos dados e fatos) que
você quer ter sobre um determinado assunto tanto para enaltecer o assunto -
time, candidato, esporte que mais lhe agrada quanto para oferecer-lhe conteúdo
dos opostos exatamente nos pontos que não lhe agradam.
No livro, essa
discussão chega até a até às possíveis influências na esfera das decisões
jurídicas a partir das bolhas dos artificiais universos individuais, sempre
alertando para os enormes riscos que esse contexto pode trazer. E o que fazer
para romper essas bolhas enquanto elas
ainda são de sabão e antes que se transformem em esferas de chumbo ou balas de
canhão?
Pela experiência que
venho acumulando em gestão de conflitos tanto nos meus clientes quanto na vida
acadêmica, percebo que a única maneira de estourar essas bolhas enquanto elas
ainda são de sabão vem da nossa disponibilidade interna, da nossa pré-disposição
de efetivamente nos conscientizarmos que vivemos em um mundo plural e que não
há nenhum problema nisso, muito pelo contrário. Perceber, ao estourar a nossa
bolha, que há outros tantos mundos e visões diferentes da nossa não nos torna
mais fracos ou menos cultos. Nos torna mais evoluídos e mais humanos.
A economia de tempo
que o algoritmo traz nas nossas buscas,
sob hipótese alguma pode ser desprezado. É extremamente útil para
agilizar a nossa rotina. Então vamos aproveitar o tempo que sobra para usufruir
de um outro prazer da vida humana que é o de conhecer lugares novos. Soltar o
nosso lado aventureiro para navegar em
outros mundos, mas sempre com a alma de viajantes e jamais de
conquistadores.
Se você quer saber mais sobre o assunto,
principalmente a influência no campo político e conheça o livro Future Politcs
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