Enquanto patrões e
empregados continuarem se olhando como inimigos, empresas e carreiras não
avançarão
Atuando tanto como coach de carreira quanto de negócios ouço
constantemente os dois lados da mesma situação – a relação entre patrões e
empregados. Um elo que seria fundamental para o crescimento da economia, mesmo
em pleno século 21 ainda aparece com muitas fragilidades e resquícios do final
do século 19. O que deveria e poderia ser uma negociação ganha-ganha, por
crenças e também pelo histórico trabalhista brasileiro tende a se tornar uma
queda de braço.
As empresas dependem de seus funcionários para crescer e os
profissionais dependem de seus empregos para sobreviver e conquistar seus
sonhos. Nem todos têm perfil ou vontade de ter seu próprio negócio. E isso não
é demérito algum. Ainda bem, inclusive, porque empresas não são – e nem
conseguem ser – feitas somente de patrões.
Independentemente da legislação, a falta de comunicação e de
percepção do outro tende a deteriorar essas relações. De um lado, muitos
empresários olhando para os empregados como pessoas a quem se deve pagar o
mínimo e exigir o máximo e, do outro, funcionários olhando empresários como
pessoas sempre muito abastadas e que nunca dão oportunidades.
Visão estreita
Vamos analisar alguns fragmentos de diálogos que já
presenciei:
“Estou com receio de
contratar esse funcionário. Ele trabalhou três meses em um concorrente e disse
que saiu porque recebeu apenas um salário pois a empresa alegava que estava em
dificuldades. Mostra que é uma pessoa que não veste a camisa da empresa.”
Opsss! Espere um pouco: relação de confiança se constrói gradativamente. E uma
das principais maneiras que uma empresa mostra seriedade para com seus
funcionários é cumprindo o acordo feito. Quando a receita de uma empresa cai, o
primeiro sacrifício precisa ser do comando, inclusive reduzindo lucratividade e
cortando gastos pessoais. Patrão que atrasa salário ou demite por falta de
verba e vai passar férias em um cinco estrelas na Europa jamais terá
credibilidade engajamento da equipe.
“A empresa não percebe
o quanto eu trabalho. Só dá oportunidade a quem bajula”. Esse é um outro
discurso muito comum. O trabalhador brasileiro ainda quer ser reconhecido pelo
número de horas que trabalha e não pelo resultado que traz. E busca primeiro a
promoção e depois mostrar que dá conta. Que tal em vez de somar horas, fazer um
demonstrativo dos resultados que conseguiu e começar a se portar de acordo com
o cargo que gostaria de ter para que a empresa veja que realmente vale a pena
apostar.
“Eu sou amigo do dono desde criança. Sou pessoa de
confiança. Comigo ninguém mexe.” Outro engano. Empresas muito pequenas pode até
ter essa tendência, mas empresários de mais visão quando crescem buscam
profissionais que consigam dar conta. Que apresentem características técnicas e
comportamentais de acordo com o novo patamar da empresa ou que estejam se
empenhando para acompanhar esse novo momento. Ser amigo do dono já não basta
mais. Precisa estudar, se desenvolver e se atualizar. Pelo menos quando falamos em patrões que são
realmente empresários.
“Ele era tão bom. Foi só ser promovido que tudo começou a
fazer tudo errado. Não serve para ser líder”. Esse é outro discurso bastante
comum. Será que não serve mesmo ou a sua empresa não está preparada para
desenvolver um líder? Quando ouço esse tipo de reclamação costumo fazer algumas
perguntas para o empresário: E quais são
as características técnicas e comportamentais que um líder na sua empresa
precisa ter? Qual a linha da sua cultura organizacional em que esse líder pode
se basear? Você deixou claro ponto a ponto para esse funcionário o que espera
dele tanto em postura quanto em produtividade, entre outros itens?
É muito comum promover alguém sem prepara-lo devidamente,
acreditando que um bom técnico e um bom gestor são sinônimos. E, quase sempre
quando isso acontece é a empresa que não sabe exatamente seu perfil de
liderança e costuma simplesmente promover e largar o funcionário à sua própria
sorte.
Estes são apenas alguns exemplos de que, enquanto empresas e
profissionais não pararem para olhar além do próprio umbigo e das próprias
necessidades, a troca não vai acontecer. E consequentemente, o crescimento
tanto da empresa quanto da carreira ficarão comprometidos.
Enquanto patrões e empregados se olharem como inimigos não
há equipe que vá para frente. Empatia quando bem praticada costuma gerar
relações de ganha-ganha. Afinal de contas, há muito a se enfrentar no mercado.
Quem tem inimigos internos não precisa nem de concorrentes e nem do desemprego.
Cava seu próprio buraco.
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