Mulher empreende de maneira diferente. A afirmação que pode
ser classificada como “obvia” algumas pessoas apresenta cada vez mais comprovações científicas. Em junho saiu o estudo anual sobre Empreendedorismo Feminino, também realizado pelo Gedi – Global Entrepreneurship Development Institute, a mesma organização que mostrou o Brasil entre os últimos países no ranking mundial de empreendedorismo.. O número de países
estudados é menor – 77 em vez dos 130 do estudo geral – e os Estados Unidos
lidera o ranking de melhor país para as mulheres empreendedoras. Austrália,
Inglaterra, Dinamarca e Holanda vem na sequência. O Brasil novamente fica entre
os últimos com o 61º lugar (quatro colocações abaixo do que no ano anterior).
Alguns indicadores subiram na média global. Entre eles, as
empresas lideradas por mulheres aumentaram em 13% sua confiabilidade desde o
relatório anterior, lançado em 2014. Casa região destaca-se por alguma
característica ou pela “lição de casa” que precisa fazer. No geral 61% dos
países não atingiram 50 pontos do máximo de 100 previstos pela metodologia. A média
se dá a partir da pontuação em 15 quesitos. São basicamente os 14 do
levantamento global, descritos no meu artigo anterior, acrescidos do nível de
igualdade de gênero encontrado em cada país.
As empreendedoras europeias ainda precisam aprende a
reconhecer as boas oportunidades de negócio. As latino-americanas ainda não
olham para o mercado externo enquanto as africanas têm mais dificuldades para
acesso a crédito e programas de capacitação. No leste asiático a consciência das
mulheres de suas habilidades e competências é o principal ponto de
desenvolvimento. Por que um estudo à parte sobre o empreendedorismo feminino?
Porque as mulheres são diferentemente afetadas pelo ambiente e pela cultura em
que vivem.
A falta de estrutura educacional e de suporte de cada país
afeta mais diretamente as mulheres como, por exemplo, a quantidade de creches
oferecidas principalmente pelo setor público. Há países em que a lei dá
direitos diferentes para homens e mulheres. No geral elas costumam empreender
mais tarde, por volta dos 35-40 anos. Entre os fatores de construção desse indicador
podem estar as separações conjugais, quando muitas mulheres precisam voltar ao
mercado depois de anos longe de suas profissões de origem, às quais poderiam
ter dificuldade para voltar.
A influência da cultura
As questões culturais são influenciadoras muito fortes.
Enquanto no ranking geral diversos países muçulmanos tradicionais mostram
avanços consideráveis e galgam melhores posições a cada ano, quando o
empreendedorismo é feminino, eles se juntam na lanterna. O último classificado
é o Paquistão e próximo dele estão Irã e outros países em que a religião
muçulmana tem forte influência. A principal exceção são os Emirados Árabes que
aparecem muito bem colocados nas duas pesquisas – empreendedorismo geral e no
feminino, respectivamente no 20º e 27º lugares. O 49º lugar da Arábia Saudita
não é uma posição de destaque, mas ao se levar em conta sua política em relação
às mulheres chama a atenção o empreendedorismo feminino naquele país estar à
frente de países como Brasil, Argentina e Rússia.
As empreendedoras brasileiras se sobressaem na capacidade da
força de trabalho, nos direitos legais que possuem e nas oportunidades de
mercado, na capacidade de transferir e compartilhar conhecimento e tecnologia –
as empreendedoras brasileiras adoram ajudar umas às outras. Precisam aprender a
considerar o mercado externo – o ponto mais fraco – seguido pela capacidade de
inovar em produtos e serviços (inovação no seu conceito completo e não
erroneamente como sinônimo de criatividade). São ainda poucas as representantes
na área de tecnologia bem como as que tiram bom proveito de tudo que a
tecnologia pode oferecer. E muitas de nossas empreendedoras não alcançaram
altos níveis de educação formal.
Em termos gerais, apesar da liderança dos Estados Unidos, a
proposta do estudo é mostrar que mais do que um PIB alto, o que pode ser
determinante para o crescimento do empreendedorismo feminino são as condições
principalmente sociais e de direitos, e ambiente propício que o cada país
oferece ao empreendedorismo feminino. O estudo na íntegra está em inglês no
site do Gedi.
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