A falsa sensação de um clima de harmonia



Esquizofrenia organizacional e rotinas defensivas parecem mais dois daqueles temas dos gurus da moda em gestão. Independentemente da origem dessas expressões, elas traduzem problemas crônicos e silenciosos que podem ser encontrados em boa parte das organizações, e tendem a corroê-las aos poucos.

Por rotinas defensivas, é possível definir aquelas práticas em que o empregado está mais preocupado em “não ter culpa” de nada quando algo dá errado a se preocupar em ajudar a empresa a crescer, oferecendo soluções, propostas e encarando os problemas de frente, inclusive quando necessário assumir sua parte da responsabilidade por eles. Os resultados de alguém acostumado às “rotinas defensivas” são basicamente dois: ele não contribui para os resultados da companhia e pode contaminar o clima organizacional.

Afinal, que equipe consegue trabalhar unida tendo um ou mais de seus membros se comportando sempre como se nada tivessem a ver com o que acontece, como os popularmente chamados “sabonetes”? As razões para esse tipo de atitudes são as mais variadas. Vão do medo de perder o emprego a até raízes mais profundas, possivelmente originárias de situações e de aprendizados na infância e na adolescência.

Quem se encaixa no conceito de “rotinas defensivas” costuma sofrer transtornos físicos e mentais. A aparente apatia fica tão profundamente instaurada nos subconsciente que faz com que o cérebro passe a “travar” com frequência. A pessoa perde sua velocidade para tomar decisões e às vezes até a capacidade de resolver questões é afetada. Esse comportamento pode ter origem no medo, tanto de ficar desempregada quanto de se posicionar. Já quem busca nas “rotinas defensivas” um refúgio para mostrar uma “personalidade linear” constantemente acaba comprometendo seu físico com doenças como gastrite de origem nervosa. Em termos emocionais pode se tornar sujeita a explosões comportamentais fora do ambiente de trabalho, com aqueles que não têm qualquer relação com seu ambiente profissional.

Esquizofrenia organizacional  

A chamada “esquizofrenia organizacional” é menos apática, mas não menos nociva. Quem sofre desse mal no trabalho costuma tentar chamar a atenção se colocando sempre em postura de vítima, nem sempre de maneira tão tímida quanto quem opta pela “rotina defensiva”e atraindo a atenção dos colegas dessa forma. Procura, com isso, justificar seus erros como consequência de “algo ruim” que fizeram para ela ou ainda tenta segurar seu emprego gerando sentimento de pena entre os colegas e a liderança.

Para um “esquizofrênico organizacional” tudo é visto de maneira negativa, como uma ameaça. Um documento com algum trecho dúbio é sempre visto como algo que pode prejudicar a empresa. Uma situação de risco, mesmo que leve, se transforma em uma tragédia. São pessoas que adoram espalhar valores que não têm e se colocar com moral rígida e inflexível, baseada na crítica ao outro. Tende a ser um “grande defensor” da empresa e costuma ter dois tipos de reação opostos quando seu personagem é descoberto ou questionado: coloca-se como uma vítima, ao mesmo tempo ruidosa e com resquícios de muita raiva, ou apropria-se da moral inflexível que tenta impor, e parte para o confronto em busca de denegrir ou desqualificar aquele que ameaça desvendar a sua “farsa” comportamental.

Consequências para as empresas   

As duas posturas citadas fazem muito mal para o profissional, afetando tanto a qualidade do seu trabalho quanto a sua vida pessoal. E as empresas também perdem com esse tipo de postura, mas nem sempre se dão conta. Podem confundir um profissional com “rotinas defensivas” com alguém equilibrado e linear e um “esquizofrênico organizacional” como alguém de grande fidelidade. No longo prazo, esses indivíduos contaminam o clima organizacional e desviam o foco da liderança dos reais problemas da empresa, além de não medirem esforços para esconder falhas. Falhas essas que, quando descobertas, podem já ter causado grandes prejuízos para a organização. Daí a importância de olhar cada funcionário em mais profundidade, prestar atenção nos detalhes antes de achar que está tudo bem.

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