Para se tornar voluntário, aposentado precisa de preparação


O aumento da expectativa de vida e a possibilidade de se chegar à terceira idade cada vez com mais saúde e disposição tem levado aposentados a trocar a antiga rede e os encontros à tarde na pracinha por uma vida cheia de movimento e de novos planos. Alguns, depois de formalmente aposentados, continuam suas atividades profissionais como consultores ou apostam em pequenos negócios. Mas uma terceira possibilidade vem chamando a atenção de quem já não está mais formalmente no mercado de trabalho: o voluntariado.

A opção pelo voluntariado é encontrada principalmente por aqueles que conseguiram se planejar financeiramente para não depender exclusivamente da pensão do governo. Costumam ser profissionais de média ou alta liderança ou os que ao longo da vida definiram bem sua situação financeira independentemente de sua posição ou área profissional. É nessa hora que a vontade de fazer algo pelo próximo - que ficou escondida por anos e anos sob a desculpa do não tenho tempo, trabalho muito - agora pode vir à tona e se tornar realidade.  Ou frustração, principalmente para aqueles que terão seu primeiro contato com o terceiro setor.

Não basta ter vontade de fazer algo pelo próximo. É preciso estar preparado para isso. Atuar em uma ONG ou montar o seu próprio projeto social no bairro depois de anos em contato apenas com o mundo corporativo é bem diferente de tocar um projeto em uma empresa. O foco muda, os meios são outros e as pessoas envolvidas também.

Lançar-se nessa nova experiência sem estar devidamente preparado pode levar o aposentado a não ter sucesso no empreendimento, aumentando os riscos de uma depressão ou frustração com consequências graves. Dar aulas em uma comunidade, atuar com crianças órfãs ou defender a natureza é mais do que uma questão de boa vontade.

Mudança de referencial

É preciso conhecer esse novo universo e a sua dinâmica. Preparar-se psicologicamente e saber rever as suas metas de acordo com a expectativa do outro, daquele que será o alvo do seu projeto. Conhecer novas metodologias e formas de trabalho e conseguir atuar com uma equipe bem mais heterogênea do que em uma empresa.  Enquanto em uma organização os cargos são definidos por formação profissional e competências, sendo que as pessoas podem ser “dispensadas” caso não cumpram seu papel de acordo com suas metas e descrição de cargo, no terceiro setor nem sempre é assim.

Sem dúvida que há organizações que funcionam de maneira semelhante a uma empresa, mas isso não é regra, pelo contrário. O aposentado que vai migrar da corporação para o terceiro setor precisa aprender a conviver com voluntários que podem ter a mesma vontade em disposição em ajudar, mas nem de longe o mesmo preparo técnico ou ritmo de trabalho. Precisa aprender a conviver em ambientes de atuação às vezes hostis em que sua carreira de gerente ou diretor de empresa e seus cursos de MBA têm pouca ou nenhuma força na hora da negociação. Tem de saber ser paciente ao abordar um novo tipo de interlocutor – o beneficiário - que vive em uma realidade diferente, com cultura, hábitos e valores e principalmente ritmo próprios.

Atualmente há cursos e profissionais especializados – quase sempre coaches – em ajudar o aposentado nessa transição para que ela seja feita com sucesso, tanto para a satisfação desse aposentado em seu novo desafio, quanto para otimizar os resultados desse trabalho voluntário junto aos beneficiários do mesmo. Para minimizar o risco de o voluntariado ser um projeto sem sucesso, é necessário primeiramente ter real consciência de que se está entrando em um mundo novo. E para isso, o aposentado precisa tanto estudar quanto contar com o apoio de quem já conhece esse universo e pode lhe servir de guia. 

Humildade e saber recomeçar são os primeiros passos para uma atuação voluntária de sucesso.




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