Por que o MEC pode dar um tiro no pé

A prova "estilo" OAB para o professor poder lecionar no Ensino Fundamental, em vez de melhorar a qualidade do profissional vai criar um mercado paralelo de cursinhos geridos pelas próprias faculdades que não oferecem formação de qualidade. Entenda como essa medida tem muitas chances de dar errado

Algumas ideias parecem boas e se pautam em problemas reais, mas quando você analisa a fundo consegue perceber que a emenda é pior que o soneto. É o caso da notícia divulgada hoje que, para melhorar a qualidade do Ensino Fundamental o MEC estaria propondo um exame do estilo feito pelos advogados na OAB para que esses professores obtivessem licença para lecionar (o link para a matéria está no final deste texto

Em vez de focar na raiz do problema, começa-se a tecer uma colcha de retalhos. Em tese uma faculdade para colocar um profissional no mercado deve ter pelo menos uma qualidade X de ensino e exigir um nível X do aluno para se formar. Então em vez de ir atrás de quem está promovendo o problema - que é a proliferação de cursos superiores sem a mínima condição e que aprovam qualquer um tanto para entrar quanto para sair - cria-se mais uma burocracia e mais um custo para o aluno adiando inclusive sua entrada no mercado de trabalho ou criando subterfúgios para jeitinhos brasileiros.

Ah mas com o exame as faculdades vão ficar com receio e melhorar sua qualidade de ensino. Não, não vão. Elas vão abrir um segundo CNPJ com um nome qualquer promovendo paralelamente cursinhos caros para aprovação no exame. fazendo o aluno comprar dois produtos seus, e o segundo deles bem caro - parecendo vir de instituições diferentes - em vez de um único produto de qualidade que seria a boa graduação.

O conserto dos problemas deve ser feito na sua origem e o acompanhamento e a exigência de atualização - esse último ponto extremamente necessário - serem feitos pelas escolas em que atuam os professores e que podem ser acompanhados de perto. Precisamos sim melhorar e muito a educação mas com medidas efetivas e não com burocracias que podem no fim dar lucro para quem efetivamente deveria ser punido que são as escolas de má qualidade.

Neste caso um investimento considerável na melhoria do ensino básico com reforço e atualização dos professores (essa sim precisa ser periodicamente medida e avaliada) formando gerações que já cheguem fortes no ensino superior, aí sim fazendo com que esse aluno não queira a faculdade de baixa qualidade porque ele pode muito mais do que essa faculdade vai oferecer. Ah mas o então o exame não seria uma boa para já trazer professores melhores e recomeçar o ciclo? ilusoriamente sim mas na prática não pelo que já coloquei acima. No mercado a experiência dos advogados mostra isso

Acesse a reportagem que deu origem a este texto: https://goo.gl/B7EA9k

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