Receita infalível para desmotivar e desunir



Estamos vivendo tempos difíceis. A irresponsabilidade das empresas com prevenção e treinamento de funcionários e terceiros vem a cada dia custando mais vidas. E o que deveria unir as pessoas pela solidariedade, está nos separando em grupos hermeticamente fechados. Pelo menos no quesito pensamento.

Não estamos usando esse terríveis acontecimentos para unir forças para cobrar punições e fiscalização. Estamos usando esses episódios para nos atacarmos mutuamente.

Esta semana, as redes sociais ferveram com postagens sobre a morte violenta do rapaz no supermercado Extra, o que gerou protestos - justificadíssimos - em unidades do supermercado no Rio, em São Paulo e em Salvador.

O que seria esperado da população indignada? Que as redes sociais fossem usadas para convocar as pessoas para esses protestos. Só que não. As redes foram usadas para criar uma comparação totalmente sem propósito - que eu chamaria até de competição mórbida - sobre que caso comoveria mais: o da cadela Manchinha morta no fim do ano no Carrefour ou a morte do rapaz Pedro, no Extra.

O mais curioso é que quem incitou a comparação não foi ninguém do grupo que promoveu o protexto no Extra. Essas pessoas estavam preocupadas em se organizar para a ação. A compraração que se iniciou não se sabe onde, viralizou e teve, inclusive, o apoio irresponsável de alguns veículos de comunicação que fizeram "reportagens" (sim entre aspas porque de reportagem os textos publicados não tem nada) incitando essa mórbida comparação. Jornalistas de verdade teriam vergonha de escrever esse tipo de texto.

E não pensem que o caso de Brumadinho escapou ileso. Em pleno resgate surgiram aqueles que no conforto dos seus lares começaram a apontar o dedo para o pessoal dos Direitos Humanos dizendo que eles estavam ignorando a tragédia. Só que não de novo. O pessoal dos direitos humanos estava ocupado demais ajudando as pessoas in loco, por isso não tinham tempo de ficar se exibindo nas redes sociais

As discussões foram acaloradas tanto nas acusações no caso de Brumadinho quanto na comparação sobre os casos dos supermercados. Diante desses acontecimentos fico pensando: será que as pessoas acreditam mesmo que apontando o dedo e tentando comprarar o incomparável elas vão gerar algum movimento positivo? Será que elas acreditam que apontando o dedo e acusando quem se manifestou no caso do Carrefour elas vão angariar mais solidariedade para o caso Pedro? NÃO.

Primeiramente porque muita gente que protestou no caso Carrefour também se mobilizou no caso Extra. Mas outros se sentiram acuados ao ter sua atitude positiva - de ter protestado no caso da cadelinha - colocada em xeque.

Alguém acredita que vai persuadir ou motivar alguém ao colocar o  dedo em riste no rosto do outro e dizer: você que protestou por causa de um cachorro, quero ver se vai protestar no caso de um humano! Alguém realmente pensa que esse tipo de coação poe ser persuasiva?

A epidemia "hater" fez com que fosse perdida uma grande oportunidade de se promover um grande movimento popular para mexer com legislação e fiscalização dos serviços de segurança. Os protestos do Carrefour e do Extra, juntos, unidos, poderiam ter enorme força para gerar uma mudança social.

Mas optou-se pelo alvo errado. Optou-se por acusar para dividir. Em vez de campanhas focadas em "tivemos uma nova situação de violência em supermercados. Vamos nos unir para que casos como o do Pedro e o da Manchinha nunca mais aconteçam". Vamos mostrar que juntos somos mais fortes e que este país tem de mudar.

Mas o tom da conversa foi outro. Foi disputar legitimidade subjugando aquele que poderia ser seu companheiro de transformação da sociedade. Será que realmente aluguem em sã consciência acredita que atacar quem se manifestou em uma outra causa é uma técnica eficaz de persuasão? E a mídia que embarcou nessa? Que tipo de jornalismo acredita que faz?

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