A dificuldade de ouvir não

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Como Master em Neolinguística, acredito que como trabalhamos a nossa mente ajuda - e muito -  a mudar nosso futuro, bem como a maneira que vemos ou reagimos aos acontecimentos. O que me incomoda em alguns “gurus de autoajuda” ou até em alguns segmentos da sociedade é o quanto esse conceito é defendido de maneira distorcida.  Ou o quanto esse tipo de conceito serve para alimentar o autoengano ou serve como ilusão para desejos que precisam de muita mudança e ação para serem realizados.

É fácil deparar com pessoas que levam esse conceito à risca e dificilmente sabem o que fazer quando percebem a distância entre a realidade e o mundo da fantasia. Reações de tristeza e decepção seriam teoricamente as mais esperadas e, consequentemente as mais fáceis de apoiar.
Raiva e justificativa

Por outro lado, elas são as menos comuns. A raiva e a tentativa desesperada de justificar que o mundo está errado, que ela pode sim, apenas o restante do universo está estragando tudo. Recentemente fui procurada por um profissional – com bom currículo inclusive – me pedindo ajuda para uma nova trajetória. O caminho desejado era totalmente diferente do que o seu background podia suportar. Uma área totalmente diversa de sua experiência e formação, e ainda com o intuito de começar por um cargo de liderança.

É possível mudar de área no meio do caminho. Muitos profissionais fazem isso. Eu mesma, apesar de não ter sido uma mudança muito radical: passei dos Setores de Comunicação e Responsabilidade Social para Coaching e Recursos Humanos. Mesmo assim, o recomeço foi difícil, implicou em muito estudo, em regredir a menos da metade do rendimento anterior e em ainda acumular trabalhos das antigas áreas, o que faço até hoje.


Eu desejo


Voltando ao caso em si, primeiramente eu tentei entender a linha de raciocínio que levava aquele profissional sênior a acreditar que seu desejo se realizaria assim em um passe de mágica. Até que eu ouvi a frase: vai acontecer porque eu quero muito. Ok, o desejo é muito importante e renova as energias. Mas sozinho, não supera formação acadêmica e experiência. Dizer “eu desejo, eu desejo” e não fazer o que é necessário para se chegar lá e, principalmente, pagar o preço que a vida cobra para isso, destrói qualquer força de desejo.

Ao entender a linha de raciocínio, comecei a trabalhar com esse cliente o caminho que ele precisaria seguir, o tamanho e a quantidade de degraus e – principalmente – que ele precisaria descer alguns degraus para tomar fôlego. Paralelamente começamos a analisar possibilidades na sua área de origem, lembrando que esse profissional está há alguns anos fora do mercado.

Novamente a constatação de que a percepção de si desse meu cliente estava totalmente diferente da realidade do mercado. E, nos caminhos encontrados mesmo dentro da área dele, a necessidade de descer alguns degraus apareceu: recomeçar em uma empresa menor, com um salário menor e – principalmente ser grato e olhar para esse possível novo ambiente de trabalho com respeito.

Em um primeiro momento esse cliente misturou emoções de tristeza e esperança. Ressalto aqui que, no trabalho de Coaching, focamos no lado positivo e enaltecemos as potencialidades, mas de maneira real e pé no chão, sem ilusões.|

O  tempo passou e não concluímos o trabalho. Segundo o cliente porque ele me contratou para fazer uma coisa – operar o milagre de colocá-lo imediatamente no cargo dos seus sonhos, o qual ele levaria uns bons anos para ter condições reais de ocupar – e eu havia feito outra: o conduzido para as possibilidades – algumas boas e outras nem tanto – que ele poderia ter diante do seu quadro atual e o longo caminho até o local desejado. Enfim: que eu não estava trabalhado para o mudar o mundo em favor dele, mas o contrário. Esse caso me lembrou um vídeo do filósofo Mario Sergio Cortela. Fica o link para quem quiser assistir:

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